Pular para o conteúdo principal

10 Motivos pelo qual não merecemos esse aumento na tarifa

Copiando a ideia do Midiamax de listar os motivos do porque o transporte coletivo em Campo Grande está muito ruim, nós do blog Ligados na Transporte resolvemos fazer uma lista mais elaborada e detalhada.

1. A prefeitura não investe nada na área

Infraestrutura para transporte coletivo é algo completamente esquecido pela prefeitura da cidade. O último terminal construído na cidade já tem mais de 15 anos. Os terminais já existentes não recebem a devida manutenção muito menos uma necessária reforma estrutural, no máximo uma maquiagem. Corredor de ônibus é uma palavra que só aparece em época de campanha eleitoral, mas está tão longe de ser executado que sequer um projeto decente para corredor de ônibus os últimos prefeitos foram capazes de fazer.

Corredor de ônibus em São Paulo. Sonho distante para os campo-grandenses. 


2. Os ônibus são os mais simples e desconfortáveis do mercado

Buscando economizar e lucrar cada vez mais, o Consórcio Guaicurus economiza em tudo que é possível. Há anos a cidade anda com os modelos mais simples e desconfortáveis de ônibus que existem no mercado, com exceção de 13 veículos em uma frota de quase 600. Há anos os padrões da cidade são ônibus de motorização dianteira, que treme mais durante a viagem além de sacrificar a saúde dos motoristas expostos ao calor e barulho do motor. A configuração interna é de poucos bancos, sendo estes de plástico e sem estofamento, não oferecendo conforto nenhum aos usuários. Lembrando que Campo Grande sofre sim de vandalismo dos usuários, mas menos do que a maioria das cidades do Brasil que rodam com ônibus melhores.

Na foto de cima, o interior de um ônibus que circula em Campo Grande. Na foto abaixo, o interior de um ônibus que circula em Londrina (PR), do mesmo grupo de empresas que operam em Campo Grande!

3. O consórcio define regras e a Agetran aceita

O Terminal Moreninhas praticamente deixou de funcionar como terminal, perdendo toda sua funcionalidade de oferecer segurança e integração temporal. O Consórcio fez isto para economizar com os funcionários que ficam vendendo passe e cuidando da catraca. A Agetran nada fez para impedir. Em 2012 as estações Peg-Fácil do centro da cidade também deixaram de funcionar no período da manhã, dificultando a integração temporal e aumentando o tempo de viagem das linhas devido ao maior tempo gasto com embarque de passageiros nestes pontos. A Agetran também se calou.  O Consórcio escala veículos pequenos e inadequados para linhas de grande demanda, não respeita mais as regras de cores das faixas do ônibus, não cumpre as ordens de serviço (horários e itinerários das linhas) e nada acontece. 

Na foto, veículo curto em uma das linhas mais demandadas da cidade.

4. A política da Agetran e do Consórcio é de oferecer o mínimo.

Nos últimos 3 anos as linhas de ônibus de Campo Grande vêm sofrendo inúmeros cortes de tabela. Várias linhas deixaram de circular, outras tiveram horário de operação reduzida e muitas perderam veículos, inclusive linhas de grande demanda e que rodam lotadas a maior parte do dia. Se para linhas de demanda baixa os cortes são ruins, pois aumenta os intervalos que já costumam ser longos, espantando os poucos passageiros que as linhas possuem, para linhas de grande demanda, tal como 070, 085 e 087, é uma temeridade, pois causa ainda mais lotação. 
070 (Terminal Bandeirantes/ T. Gen. Osório), linha de grande demanda que passou a rodar com um carro a menos em 2016.


5. A frota que já é simples está velha e sucateada

Apesar de há muito tempo as empresas que operam em Campo Grande usarem os modelos mais simples e desconfortáveis do mercado, a manutenção dos veículos era boa e a idade média da frota relativamente baixa, predominando os veículos mais novos em circulação. De 3 a 4 anos para cá o cenário mudou drasticamente. A qualidade da manutenção caiu, as quebras se tornaram constantes, imagens de desleixo da manutenção como teto caindo se tornaram cada vez mais comum, problemas graves como ônibus soltando eixo, com princípio de incêndio ou incapaz de encarar uma subida vem ocorrendo com frequência. A idade média da frota também nunca foi tão alta, já quase alcançando os 7 anos, sendo que a última renovação foi realizada em 2014. Para piorar, o Consórcio vem priorizando a circulação dos veículos mais antigos e deixando os mais novos na reserva. 

Problemas graves de manutenção, problema comum em 2016

6. As empresas operam desleixadamente

Muitos dos problemas que ocorrem na cidade são por motivos de economia, mas há muitas coisas que acontecem que são completo desleixo das empresas e também da Agetran. A mais de um ano foi instalado sistema de GPS em todos os ônibus da cidade para que os usuários pudessem acompanhar em tempo real quantos minutos faltam para os ônibus passarem em aplicativos tal como o Moovit. Porém, mesmo já tendo o sistema instalado, este praticamente não funciona por mera falta de vontade das empresas em resolver problemas técnicos. As empresas ultimamente não se dedicam nem mesmo a fazer crachás laterais para o ônibus, àqueles que informam a linha e alguns pontos de seu trajeto. 

Veículo na linha 514. Notem o crachá feito de fita adesiva, somente com o nome da linha. Serviço precário.

7. As informações são precárias

Aos fins de semana a linha 229 (Cabreúva/ Seminário) tem que ir até o bairro Lagoa da Cruz. Aos domingos a linha 117 (Ramez Tebet/ Cohab) tem que cobrir parte do itinerário da 106 (Universitária 2/ Cohab) que não roda. Onde conseguir estas informações? Em lugar nenhum. Não há nenhum site na internet, aplicativo de celular ou qualquer coisa do tipo que informe essas alterações que as linhas sofrem em seu itinerário. O sistema adotado pelo Consórcio Guaicurus em seu site para informar os horários das linhas nos pontos é muito impreciso e apresenta diversos erros. Onde comprar passe de ônibus ou recarregar seu cartão? Boa sorte para descobrir, porque é outra informação que não é atualizada há anos. 

Linha 216 (Estrela do Sul/ Terminal General Osório). Sofreu uma alteração no itinerário em 2016, mas até hoje não foi atualizado no site.

8. O sistema de operação não é atualizado

A cidade de Campo Grande cresceu, novos bairros vão surgindo, novas avenidas vão surgindo, novos pontos comerciais geradores de demanda além do centro vão surgindo, mas as linhas da cidade não são atualizadas. Moradores de bairro como União e Oliveira, que ganharam novo acesso pela rápida Avenida Lúdio Coelho, ainda são obrigados a dar volta pelo Taveirópolis em suas linhas de ônibus. A cidade conta com poucas linhas interbairros, muitos deslocamentos ainda são focados em se dirigir ao centro da cidade, o que torna a viagem mais longa, demorada (devido ao trânsito) e superlota as linhas centro/terminal. Pontos comerciais importantes, como Av. Bom Pastor, sequer conta com uma linha para algum terminal ou para o Ponto de Integração Hércules Maymone. Na Agetran, aparentemente não há nenhum técnico capaz de avaliar isto, afinal, os diretores de transportes são meros indicados/ apadrinhados políticos. 

Veículo na linha 301. Nenhuma alteração depois do surgimento de novas avenidas.

9. A tarifa sobe e a qualidade cai

Quem anda de ônibus sabe, todo ano haverá reajuste, o que é até esperado, por conta da inflação, para no mínimo manter a qualidade do serviço. Porém, para o Consórcio Guaicurus, não podemos dizer nem que os aumentos servem para manter a qualidade, afinal, ano a ano o serviço vem piorando cada vez mais. Não importa quantos cortes de linhas e tabelas sejam feitos, quanto combustível se economiza rodando com menos articulados ou colocando carros pequenos em linhas de grande demanda, quanto se economiza tendo menos funcionários cuidando dos terminais e estações pég-fácil, a tarifa continuará aumentando. 

10. O serviço executivo é vergonhoso

A ideia de ter veículos menores e mais confortáveis a um preço maior é uma tendência em diversas metrópoles do mundo. Campo Grande foi uma das pioneiras no país a adotar este sistema, mas há muito tempo a ideia foi abandonada aqui, ainda existindo serviço executivo somente para cumprir tabela. As empresas não têm veículos suficientes para cumprirem as tabelas das linhas executivas, sendo comum serem escalados carros convencionais em todas as linhas da cidade, os intervalos que deveriam ser pequenos só aumentam cada vez mais, isto quando as empresas não decidem simplesmente cortar algumas voltas da linha por conta própria. Todo e qualquer potencial que estas linhas tem de atrair passageiro vai se perdendo, sendo destinadas a carregarem cada vez menos gente e acabarem, o que diga-se de passagem é um objetivo que o Consórcio Guaicurus deseja realizar faz tempo.

Uma das cenas mais comuns do nosso transporte atualmente: veículo convencional em linha executiva.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Análise dos dados da pesquisa Origem / Destino de Campo Grande - MS Parte 2

Na segunda parte das análises dos dados da pesquisa Origem / Destino encomendada pelo Consórcio Guaicurus, focaremos na origem destino propriamente dita, ou seja, de onde para onde as pessoas se movem na cidade. Essas informações seriam muito úteis para o replanejamento das linhas de ônibus da cidade, mas como dito nas análises anteriores, o relatório traz números com pouquíssimas análises em cima deles. Nesse texto tentamos simplificar ou pelo menos trabalhar esses números de forma diferente para obter mais informações.  Foto na formatação original de uma das tabelas presente na pesquisa e apresentada nessa análise. A  cidade foi dividida em nove regiões, numerada na pesquisa da seguinte forma:

Consórcio Guaicurus sob nova direção

Paulo Constantino, irmão de Nenê Constantino, é o novo diretor do Consórcio Guaicurus. Assumiu a direção do consórcio há poucas semanas, ficando no lugar do até então diretor João Rezende. Depois do escândalo da retirada dos articulados da Viação Cidade Morena , o antigo diretor ficou sob extrema pressão, que fez com que ele renunciasse e pedisse transferência para trabalhar internamente, na Assetur. Paulo Constantino, irmão de Nenê Constantino, dono da maior frota de ônibus do Brasil.

Sistema de cores do transporte de Campo Grande: pode enterrar.

Os mais saudosistas se lembram com carinho quando em 1992 foi inaugurado o SIT em Campo Grande, sistema integrado de transportes, com a construção dos terminais Bandeirantes e General Osório. Este sistema, baseado no de Curitiba, trouxe uma nova divisão de linhas e alterou a pintura dos ônibus, antes cada empresa tinha sua pintura, após a implementação deste sistema, a pintura foi padronizada com 4 cores, eram elas: Amarelo: Linhas convencionais, que fazem trajeto centro-bairro.  Vermelho: Linhas troncais, que fazem trajeto terminal-terminal passando pelo centro ou terminal-centro.  Verde: Linhas interbairros, que fazem trajeto terminal-terminal mas sem passar pelo centro.  Azuis: Linhas alimentadoras, fazem trajeto bairro-terminal.