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E a volta do Bernal?

Época de eleições municipais, um assunto diretamente relacionado com transporte coletivo. Em Campo Grande o atual prefeito, Alcides Bernal (PP), busca a reeleição e nós iremos avaliar como foi sua gestão em transporte em seu conturbado período frente à prefeitura. 



Em 4 anos Bernal teve duas passagens pela prefeitura, uma antes de sua cassação e outra depois. Sua passagem antes do impeachment já foi discutida aqui no blog e bem elogiada inclusive, que vocês podem conferir aqui. Por meio de um golpe aplicado pelos vereadores, o vice-prefeito, Gilmar Olarte, assume a prefeitura e como em todas as áreas teve uma gestão desastrosa e altamente suspeita frente ao transporte coletivo, como vocês podem conferir aqui e aqui

Mas em agosto de 2015, por meio de ação judicial, Bernal volta a prefeitura, nos enchendo de esperanças que o período do Consórcio Guaicurus fazendo o que quer na cidade estava para acabar. Sua gestão na área começou bem, nomeando o arquiteto Elídio Pinheiro para o comando da Agetran. Elídio, que além de não fazer parte de nenhuma negociação política, tinha um perfil técnico, sendo inclusive um dos elaboradores dos planos do SIT (Sistema Integrado de Transporte) na década de 90, plano baseado no de Curitiba que visava melhor organizar e priorizar o transporte na cidade. Mas passado mais de 1 ano da volta de Bernal, sua gestão não só não atendeu as expectativas como decepcionou e muito. O Consórcio Guaicurus está mais poderoso do que nunca.

Frente a Agetran, Elídio esteve muito focado no corte de custos para segurar o preço da tarifa. No último aumento de tarifa que ocorreu na cidade, o Consórcio pediu para que a passagem fosse de R$3,00 para R$3,50, porém a prefeitura cedeu somente metade disto, levando a tarifa para R$3,25.
Mas aparentemente em contra partida a não ter cedido o aumento pedido pelo Consórcio, à prefeitura permitiu que este operasse da maneira que bem quisesse e realizasse todas as alterações que gostariam para cortar custos. Durante este período, todas as mais lotadas e demandadas linhas da cidade sofreram corte de tabelas e/ou redução da capacidade de passageiros (trocando veículos articulados por convencionais), como já foi tema de matéria do nosso blog. As empresas passaram a descumprir descaradamente as ordens de serviço imposta, deixando de colocar ônibus nas linhas como bem entendesse, como nesse caso, que a linha 391 (Tarumã/Shopping - Executivo) deixou de circular na sua última volta.

Não houve mais renovação nenhuma de frota, somente a chegada de veículos usados de outras cidades e hoje temos uma frota com idade média elevadíssima (superior a 6 anos), além disto, o Consórcio deixa os veículos mais novos e de maior capacidade parados a maior parte do dia, fazendo algumas pequenas voltas de reforço, enquanto os veículos menores e mais velhos circulam o dia inteiro. A qualidade da manutenção nunca foi tão ruim, o que inclusive já foi um ponto forte das empresas de Campo Grande, hoje se encontra em situação lamentável. Em menos de 1 mês tivemos ocorrência de ônibus soltando o eixo no meio da rua, ônibus soltando a porta, ônibus com motor pegando fogo e ônibus com falha no sistema de freio, para ficar somente nos exemplos de grande gravidade, fora os pequenos reparos que já não são feitos também.

Veículo usado do Paraná, de ano 2010, que chegou em 2015 para circular na capital.

Na parte de infraestrutura, Bernal deu prosseguimento a seu antecessor Nelson Trad, numa gestão de infraestrutura para transporte zero. O dinheiro do PAC mobilidade completa mais de 6 anos sem ser investido, somente com promessas  e promessas estas que se forem cumpridas, não trará nenhuma benefício aos usuários de ônibus. Bernal utilizará a primeira parte do recurso para recapear a Av. Bandeirantes e Mal. Deodoro e as ruas Brilhantes e Guia Lopes, em obras que não prevê a construção de corredores exclusivos para ônibus. Desta forma, um dinheiro que deveria ser investido em transporte coletivo, na verdade só trará mais veículos particulares a estas vias para disputar espaço com os ônibus. A construção de terminais de ônibus que são previstos desde a década de 90 continua não fazendo parte das prioridades dos gestores e Campo Grande caminha a largos passos para continuar sem nenhum corredor de ônibus, mesmo já tendo recebido verba do governo federal para isto.

Então como conclusão, Bernal terminará seu primeiro mandato como um prefeito que além de não ter realizado nada de impactante para melhorar o transporte na cidade, foi incapaz de exigir até mesmo o mínimo que um prefeito deve exigir das empresas de ônibus que possuem a concessão para operar na cidade. 

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